sábado, 5 de junho de 2010

Chico conotativo!


O tema do leite já havia sido introduzido na narrativa: Matilde tinha seios fartos, seu leite era “exuberante”, amamentava a filha com prazer e sem pudor. O leite é a metáfora da vida, que abundava em Matilde. Ao leite se contrapõem, no romance, outros líquidos vitais, masculinos: o sêmen e o sangue. Embora também vitais esses líquidos sejam associados à morte. O sêmen é evocado em conexão com o assassinato do pai: “Mas vai restar visível uma mancha úmida no colchão, que tratarei de virar como faço toda manhã, deixando para cima o lado das manchas secas. Terei a sensação de que o colchão pesa mais um pouco a cada dia (...) E pensarei que, se eu tivesse virado o corpo do meu pai na garçonnière, ele pesaria igual ao colchão e exalaria o mesmo cheiro (...) E queria entender por onde entraram tantas balas, porque parecia que todo o sangue dele tinha saído pela boca, aquela grande úlcera”. Desperdício de vida, como o leite derramado; mas o do sangue provinha da culpa do pai, enquanto o do leite de Matilde é pura perda, sofrimento que se esvai pelo ralo da pia e que permanece, para Eulálio, um “mistério”.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A idéia




De onde ela vem?! De que matéria bruta
vem essa luz que sobre as nebulosas
cai de incógnitas criptas misteriosas
como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
de feixe de moléculas nervosas,
que, em desintegrações maravilhosas,
delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe
chega em seguida às cordas da laringe,
tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
mas, de repente, e quase morta, esbarra
no mulambo da língua paralítica!
Augusto doa Anjos