sábado, 5 de junho de 2010

Chico conotativo!


O tema do leite já havia sido introduzido na narrativa: Matilde tinha seios fartos, seu leite era “exuberante”, amamentava a filha com prazer e sem pudor. O leite é a metáfora da vida, que abundava em Matilde. Ao leite se contrapõem, no romance, outros líquidos vitais, masculinos: o sêmen e o sangue. Embora também vitais esses líquidos sejam associados à morte. O sêmen é evocado em conexão com o assassinato do pai: “Mas vai restar visível uma mancha úmida no colchão, que tratarei de virar como faço toda manhã, deixando para cima o lado das manchas secas. Terei a sensação de que o colchão pesa mais um pouco a cada dia (...) E pensarei que, se eu tivesse virado o corpo do meu pai na garçonnière, ele pesaria igual ao colchão e exalaria o mesmo cheiro (...) E queria entender por onde entraram tantas balas, porque parecia que todo o sangue dele tinha saído pela boca, aquela grande úlcera”. Desperdício de vida, como o leite derramado; mas o do sangue provinha da culpa do pai, enquanto o do leite de Matilde é pura perda, sofrimento que se esvai pelo ralo da pia e que permanece, para Eulálio, um “mistério”.